Suponha que você esteja procurando um novo emprego, um novo projeto pra fazer uma renda extra ou até mesmo sua primeira oportunidade como estagiário ou desenvolvedor júnior.
Você já tem algum nível de conhecimento em código, já construiu algumas funcionalidades ou até criou seu primeiro projeto.
Mas o processo de contratação não é muito claro então vamos tentar simplificar.
Seu primeiro projeto
Você aprendeu HTML, CSS e JavaScript. Criou seu primeiro site para algum profissional da sua região e usa esse projeto como portfólio. Talvez já tenha até um site pessoal com seu próprio domínio.
Fazendo tudo por conta própria, você:
- subiu o projeto no GitHub;
- conectou com a Vercel (ou outra plataforma de hospedagem);
- comprou um domínio e configurou tudo bonitinho;
- talvez até já tenha experimentado mexer com VPS, deploy manual ou Docker;
- fez reuniões com o cliente, desenhou o projeto (ou usou IA), organizou tarefas com GitHub Projects;
- dividiu etapas, usou Git para versionar e no fim… entregou tudo funcionando.
Você conhece cada etapa do processo, se orgulha disso e deveria!
Agora você tem um perfil no LinkedIn, listou todas as tecnologias que usou, talvez até algumas metodologias ágeis que aplicou no projeto. E, enfim, recebeu sua primeira proposta de emprego.
A entrevista aconteceu, mas não foi dessa vez
Você passou por todas as etapas:
Entrevista com o RH, entrevista técnica e desafio de código
Mas não foi dessa vez. A vaga foi para outro candidato.
E aí vem as perguntas:
“O que faltou para eu ser considerado um profissional júnior?”
“Por que eu não fui contratado?”
Vamos destrinchar um pouco mais acerda do processo.
Entendendo as etapas da entrevista técnica
A visão do desenvolvedor
Do seu ponto de vista, você já sabe as tecnologias. Fez até um site funcional, entregou valor real. E isso é ótimo mesmo que você ainda esteja aprendendo o que significa “saber bem”, será que voce sabe todas aquelas estrelinhas que colocou em javascript no seu currículo?
Sim, você entregou um projeto real, mas a forma como você fala sobre ele, como organiza, como pensa os problemas, como escreve código, tudo isso ainda pode estar amadurecendo.
E isso vai fazer parte de toda a sua carreira, continue amadurecendo.
A visão do recrutador de RH
Esse profissional provavelmente não tem background técnico. O que ele quer avaliar é:
- você sabe se comunicar bem?
- sabe contar a história do seu projeto?
- tem clareza ao falar das tecnologias e decisões que tomou?
Essa etapa é mais sobre venda pessoal do que sobre tecnologia. Se você chegou até aqui, é porque seu currículo já foi validado. Parabéns! Mais uma de várias barreiras foi vencida.
A visão do entrevistador técnico
Agora você fala com alguém da área técnica. Essa pessoa pode ser um desenvolvedor experiente — ou não.
O objetivo aqui é avaliar sua autenticidade:
- Você realmente entende o que diz?
- Como resolve problemas?
- Como toma decisões?
- Como reage a perguntas que não sabe?
Sendo uma vaga júnior, é esperado que você tenha limitações. O foco costuma ser mais em comprometimento, curiosidade, esforço e fundamentos.
Ciente que mais uma vez você está num processo de venda, em poucos minutos é impossível avaliar um profissional tecnicamente, encare como se você estivesse em um meetup, converse, faça um networking real, seja o tipo de pessoa que vale a pena trabalhar ao lado, mesmo que você nao chegue a trabalhar ao lado desse profissional.
A visão do avaliador do desafio técnico
Se você passou para essa etapa, seu código agora está sendo analisado por alguém do time de engenharia.
O que essa pessoa vai avaliar:
- O projeto roda? Atende aos requisitos?
- O código está organizado? Modularizado?
- O uso das tecnologias faz sentido?
- Você seguiu boas práticas? Compreendeu a proposta?
- Como foram seus commits? O histórico faz sentido?
Mesmo que tudo funcione, decisões mal explicadas, má organização ou um código confuso podem pesar negativamente.
Durante o desafio podem ocorrer imprevistos, muitas métricas podem sair de forma imprecisa, apenas foque em fazer o melhor possível.
Então por que você não foi contratado?
Você pode ter ido bem em todas as etapas, mas ainda assim não foi escolhido. Isso acontece. E aqui vão alguns motivos possíveis:
- Concorrência: centenas (ou milhares) de candidatos podem ter aplicado.
- Critérios subjetivos: recrutadores e entrevistadores são humanos, emoções e viéses influenciam.
- Orçamento da empresa: o processo pode congelar por fatores internos.
- Perfil cultural: às vezes, a escolha é por quem “parece combinar mais” com a equipe.
- Indicações: processos com indicações internas geralmente têm mais peso.
Muitas dessas coisas não estão sob o seu controle.
O que está no seu controle?
Seu empenho, suas decisões, seu comportamento, sua disposição para aprender e melhorar a cada dia.
Nada disso garante uma vaga, mas tudo isso constrói sua jornada. Veja bem, uma empresa ou um cargo não vão ditar toda a sua vida profissional ou pessoal. E digo mais, use o processo pra melhorar o que voce encontrar como falha no seu processo e na sua preparação.
O que fazer agora?
Continue construindo:
Melhore seu portfólio, participe de projetos reais ou voluntários, escreva sobre suas experiências, compartilhe código no GitHub, faça networking, aplique para novas vagas.
A cada nova tentativa, você afia suas habilidades. Vai chegar um momento em que você estará muito acima do nível da vaga e então, será impossível ignorarem seu valor.
- Nenhum curso, livro ou treinamento vai te deixar 100% pronto, nem mesmo um curso feito pela empresa garante sua contratação.
- Você vai aprender mais trabalhando do que estudando, a primeira vaga é a mais difícil, aprenda com ela.
- Rejeição faz parte. Não é pessoal e você não é incapaz.
E afinal, o que é senioridade?
Senioridade é sobre contexto: onde você esteve, o que você fez, o que aprendeu com isso.
Não define onde você vai chegar.
Seu valor não está preso a um cargo ou nível. Você é mais do que uma vaga, um rótulo ou um processo seletivo.
Concluindo
Falhar em um processo não significa fracasso. Significa iterar, assim como em qualquer sistema que estamos tentando melhorar.
O mercado de tecnologia é brutal em alguns aspectos, mas também é repleto de oportunidades.
Continue se expondo, aprendendo e tentando. Uma hora, a vaga certa, na empresa certa, vai chegar e aí você vai lembrar de todo o caminho que trilhou pra chegar lá com orgulho.
Ao longo desse caminho você vai conhecer profissionais excelentes, aproveite pra fazer networking real com as pessoas que disponibilizaram tempo e empenho pra te avaliar, use o processo pra aprender e se desenvolver, publique seus resultados e ganhe visibilidade.
Veja bem, não odeie o jogador, odeie o jogo. Empresas são feitas pra gerar lucro, as pessoas contratam histórias e pessoas, não suas capacidades. Estar dentro de um projeto não vai te livrar de sofrer com as etapas e de infelizmente cometer erros.
Cada empresa que você passa, cada processo que voce realiza, você está aumentando seu valor, não só seu valor de mercado, mas seu valor como pessoa, entenda o processo como ele realmente é.